Pensemos um pouco sobre a importância da autoestima e seu reflexo no casamento e na família. Quem não ama a si próprio, não se sentirá feliz mesmo tendo tudo o que deseja. Já adultos, por que parece que, internamente, muitos de nós somos como uma criança solitária e insegura, que requer proteção, carinho e afeto? De acordo com Winnicott (1896-1971), pediatra e psicanalista inglês, a “mãe suficientemente boa” é aquela que entende quando o choro de seu bebê é um sinal de fome, sede, dor, frio, sono ou se é o desejo de colo e aconchego. Para John Bowlby (1907-1990), autor da teoria do apego, se as sensações vividas pela criança são de conforto, confiança e segurança, surgirá uma relação de apego seguro entre ela e a mãe (ou sua substituta). Caso isso não ocorra, o bebê se sentirá inseguro, estendendo essa experiência para a adolescência e vida adulta. À medida que a criança cresce, vai internalizando essa forma de relação, que será base para estabelecer vínculos com as pessoas.
As relações sociais (ou familiares) na infância marcam nossa mente, alma e corpo muito mais do que seria capaz de fazê-lo qualquer tatuagem. Não lembramos a primeira vez que mamamos nem quando demos os primeiros passos, entretanto tais experiências tão significativas estão registradas para sempre em nosso inconsciente. Podemos assim entender por que Freud, o criador da Psicanálise, dizia que “A base do amor adulto está na infância”. A família é o primeiro grupo social que oferece uma narrativa sobre quem somos. Na vida adulta, essas vozes continuam ecoando dentro de nós, influenciando nosso jeito de pensar, sentir e agir. Os pais são uma espécie de espelho que refletirá como o filho se sentirá amado. O reforço positivo, elogios e o reconhecimento das qualidades dos filhos são imprescindíveis para a formação da autoestima.
Antes da Psicologia, a Bíblia já afirmava: “Porque como você se imagina na sua alma, assim você é” (Pv 23.7). Vários de nossos conflitos conjugais e familiares são reflexos do nosso próprio conflito interno. A visão que tenho de mim mesmo determina a maneira como me relaciono com meu cônjuge e meus filhos. Como posso amar aos outros, se não desenvolvi amor à pessoa mais importante da minha vida: eu mesmo? A felicidade tem suas raízes dentro do ser, não exteriormente. Somente pessoas felizes constroem casamentos felizes. O Evangelho também traz cura para a autoimagem ferida e rebaixada quando, ao entendermos o quanto Deus nos ama do jeito que somos, experenciamos interiormente Seu maravilhoso amor. Devemos pensar em nosso valor, tendo como base o espelho do amor de Deus, em vez de ficar se medindo pelos olhos dos outros.
Paulo escreveu: “Porque somos feitura de Deus” (Ef 2.10). Feitura é vocábulo que vem do grego “poiema”, referindo-se ao trabalho manual feito por um artesão. Somos o “poema” de Deus, sua “obra de arte”. Jesus disse: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39). Se não me amo, como amarei as pessoas? O apóstolo João escreveu (1Jo 4.19) – “Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro”. Quando nos abrimos para o amor de Deus, sentimo-nos amados de modo pleno e podemos amar mais as pessoas, principalmente, os nossos familiares. Sendo que Deus nos ama e nos aceita como somos, devemos nos questionar: “Por que não amaremos a nós mesmos”? É de Richard Bach, autor do livro “Fernão Capelo Gaivota”, a frase: “Durante muitos anos esperamos encontrar alguém que nos compreenda, alguém que nos aceite como somos, capaz de nos oferecer felicidade apesar das duras provas. Apenas ontem descobri que esse mágico alguém é o rosto que vemos no espelho".
Ademir T. de Freitas
Psicólogo (CRP 06/90.535)